Com os estudos avançados na área da psicologia cognitiva, conseguimos entender, com melhor precisão, os mecanismos envolvidos no processo de leitura e compreensão de textos. Hoje, sabemos que é necessário conhecer como funciona o cérebro da pessoa com ou sem dislexia, neste processo, saber as estratégias que o aluno utiliza na leitura de um texto, os mecanismos que não estão funcionado adequadamente, para entendermos porque ele apresenta dificuldades na leitura e conseguirmos aplicar técnicas de intervenções adequadas.
Para as pessoas hábeis em leitura, ler é uma tarefa fácil e rápida. Olhamos para um objeto ou para a sua escrita e automaticamente temos a imagem mental do objeto, sabemos como escrevê-lo, quais as letras que compõem a palavra e seus sons respectivos, isso porque reconhecemos as letras, os sons, sabemos segmentar, fazemos o reconhecimento das palavras, temos o pleno domínio das fases da leitura: decodificamos, compreendemos, interpretamos e retemos o conteúdo. Entretanto, essa não é uma tarefa fácil, para a realização deste processo, de maneira eficaz, é necessário uma tomada de consciência das características específicas da linguagem. Para o domínio da leitura, muitas operações cognitivas complexas cerebrais são realizadas.
Nosso cérebro tem regiões cognitivas específicas encarregadas de determinadas tarefas, é um sistema cognitivo altamente sofisticado, e se um dos componentes não funciona adequadamente a leitura é uma tarefa difícil e aterrorizadora.
Geralmente , a avaliação da leitura tem se concentrado na decodificação, memória para recordar palavras, fluência, ritmo, compreensão, sem avaliar os processos que interferem na leitura e compreensão.
Verifica-se o nível de leitura, mas não são verificadas as dificuldades fonológicas e lexicais, do nível mais simples para o mais complexo e muito menos as condições neuro biológicas que estão interferindo neste processo, para que os alunos tenham um bom nível e perfil de leitura.
Em uma avaliação do processo de leitura de uma aluno, é preciso observar: se a leitura ocorre por meio do processo fonológico ( a conversão do grafema em fonema e vice-versa) ou pelo processo visual ( lexical).
É importante verificar que se o aluno lê bem as palavras conhecidas, familiares, mas apresenta dificuldades nas palavras desconhecidas , ele não está sabendo converter grafemas em fonemas e sua leitura está sendo realizada pela rota fonológicas. Se ele lê bem palavras com estruturas silábicas simples mas possui dificuldades em palavras com estruturas silábicas complexas, ele está se baseando apenas pela rota fonológica e não tem domínio na lexical. Deverá ser trabalhado a rota lexical, em ambos os casos.
Relembrando que, para identificação das letras , é defendido, atualmente , por estudiosos da área que as letras e as palavras não são identificadas em ordem sucessiva, primeiro as letras e logo as palavras, ou primeiro as palavras e depois as letras, isso pode acontecer simultaneamente.
Sendo assim, quando vemos uma palavra, nosso cérebro ativa o reconhecimento de letras e quase simultaneamente o das palavras e ao mesmo tempo, quanto mais se reconhece as palavras, melhor as letras são identificadas.
Para melhor entendimento, apresentamos as seguintes definições:
Rota Fonológica: processamento fonológico (processo de conversão de grafemas – letras – em fonemas – sons das letras).
Rota lexical : análise visual (reconhecimento visual das palavras escritas) as palavras são identificadas conforme o reconhecimento de sua ortografia e também associados com outras palavras que tenham ortografias semelhantes, bem como o acesso imediato ao seu significado semântico
https://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com/2017/07/processamento-lexico-e-fonologico.html#:~:text=Diferentemente%2C%20na%20rota%20lexical%20as,imediato%20ao%20seu%20significado%20sem%C3%A2ntico. , acesso em 10/08/2020 às 19:29h
Exemplificando:
Observe a palavra:
S O R M E T I
Identificamos as letras, as sílabas, lemos a palavra, mas não reconhecemos e nem deciframos o significado que esse grupo de letras representa, porque não conhecemos nada que tenha o nome de SORMETI, na língua Portuguesa . Sormeti é uma palavra inventada ou seja, uma pseudopalavra (palavras formada por combinação de sons e letras, mas que não existem no léxico de uma língua).
A rota fonológica é responsável pela decodificação do grafema/fonema, por exemplo, para leitura da palavra: “sormeti”, o leitor, embora desconheça a palavra e seu significado, conseguirá ler fazendo uso dos conhecimentos fonológicos. Baseiam-se nos procedimentos fonológicos de conversão de grafemas em fonemas, quando da leitura em voz alta. Portanto, lêem com maior precisão as palavras regulares e tendem a regularizar as demais
Agora observe:
P A T O
O aluno fará a leitura com facilidade , se seguir apenas a rota lexical , pois P A TO é uma palavra bastante vista e conhecida por ele . Quem segue essa rota, baseia-se maciçamente no reconhecimento da palavra inteira (leitura lexical), mas cometerão erros em que farão a troca de palavras pouco familiares por outras semelhantes.
Outro exemplo:
L A T A
Pela rota lexical, o aluno vai lembrar que o “L” é a mesma letra da palavra Leite, luta, etc., “TA” é a mesma sílaba da palavra TATU e vai chegar à leitura e ao significado através da representação interna que possui
Essa rota tem pouca dificuldade em pronunciar palavras familiares, porém apresenta dificuldades com palavras não-familiares . Serão os disléxicos fonológicos.
https://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com/2017/07/processamento-lexico-e-fonologico.html#:~:text=Diferentemente%2C%20na%20rota%20lexical%20as,imediato%20ao%20seu%20significado%20sem%C3%A2ntico.
Para exemplificar mostramos a imagem:
O que faz com que consigamos ler é que somos leitores competentes, as duas rotas – fonológica e visual – estão íntegras e podem ser disponibilizadas para a leitura, facilitando o reconhecimento preciso e rápido das palavras e a compreensão do conteúdo lido.
http://www.fonologica.com.br/blog/tag/rotas-de-leitura/ acesso em 10/08/2020 , ás 19:49 h
Quando maiores, os alunos, em palavras homófonas, como “mal” e “mau”, vão novamente utilizar a rota lexical, ou seja, utilizar pistas visuais para distinguir o significado, e para isso ele necessita ter visto muito vezes essa palavra, para memorizar e ter uma representação interna desta palavra e seu significado, armazenada na sua memória de longo prazo.
Interfere na escolha da rota, o perfil do leitor, sua idade, etapa do ensino sistemático que está, se o aluno é bom ou mau leitor, o método de ensino da leitura, tipo de leitura: silenciosa, voz alta, etc. Corso e Salles (2009) em estudo da “Relação entre leitura de palavras isoladas e compreensão de leitura textual em crianças” enfatiza que no bom leitor duas rotas são acionadas , a rota fonológica e a lexical . Essa duas rotas , necessárias para a leitura , são acionadas pelo cérebro, são chamadas de léxico mental, e estão na nossa memória de longo prazo.
https://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com/2017/07/processamento-lexico-e-fonologico.html#:~:text=Diferentemente%2C%20na%20rota%20lexical%20as,imediato%20ao%20seu%20significado%20sem%C3%A2ntico. Acesso em 10/08/2020 , ás 20:21 h
Veja como funciona o modelo cognitivo de Dupla - Rotas
https://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com/2017/07/processamento-lexico-e-fonologico.html
Vamos ler o texto, retirado da página para ter uma noção de como funciona a leitura , utilizando somente a rota fonológica:
A p e s s o a q u e t e m d i f i c u l d a d e s n a t r a n s f o r m a ç â o d o g r a f e m a e m s o m p o r i s s o n â o c o n s e g u e m r e a l i z a r a l e i t u r a c o m f l u ê n c i a e v e l o c i d a d e .
Para você que já tem a proficiência necessária e utiliza as duas rotas, tanto a fonológica quanto a léxica, foi fácil, mas percebe-se que perdemos a fluência e a velocidade na leitura
Imagine quem faz uso apenas da rota fonológica, como é difícil!!!
A fluência e velocidade na leitura é aumentada a partir do aumento das informações lexicais que temos armazenadas na nossa memória. Se para quem utiliza só a rota fonológica é difícil, triplique essa dificuldade para aqueles que não possuem de forma adequada a consciência fonológica, sua leitura será silabada, lenta, não haverá compreensão leitora, o aluno terá comprometimento na memorização e busca de imagens mentais que são necessários para aquisição da habilidade leitora
Só o treino, para alunos que tem dificuldade neste processo não é suficiente, é necessário um trabalho sistemático com a discriminação auditiva, memória fonológica, memória visual e outras áreas do desenvolvimento deficitárias, para que se consiga alcançar o objetivo
Portanto, é necessário avaliar no aluno o uso de ambas as rotas, suas dificuldades, para propor um plano de intervenção objetivando sanar as lacunas encontradas, adequando às atividades propostas ao nível tipo de dificuldades.
Essas atividades devem ser elaboradas com conhecimento teórico de como é o funcionamento dos processos cognitivos relacionados à leitura , a partir de um diagnóstico bem identificado.
Sugerimos, para essa avaliação, a aplicação do PROLEC – provas de avaliação dos processos de leitura . Para explicar o processo de aprendizagem da leitura , no PROLEC foi utilizado o modelo da Dupla Rota. O instrumento Provas de Avaliação dos Processos de Leitura – PROLEC foi adaptado para a realidade brasileira, com a intenção de fornecer aos pesquisadores e profissionais da área da saúde e da educação um instrumento de avaliação com base em critérios e normas de desenvolvimento de leitura, pois por meio de uso deste instrumento será possível avaliar os diferentes processos e subprocessos que interferem na leitura, e assim, identificar os casos de dificuldades ou transtornos de aprendizagem e quais os processos responsáveis por essas dificuldades.
Texto adaptado da página:https://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com/2017/07/processamento-lexico-e-fonologico.html#:~:text=Diferentemente%2C%20na%20rota%20lexical%20as,imediato%20ao%20seu%20significado%20sem%C3%A2ntico. Acesso em 10/08/2020
Referências :
BRANDÃO, Letícia Peixoto Morais. Dislexia: Características e Intervenções. Especialização em Educação Especial e Inclusiva. Universidade Cândido Mendes. Rio de Janeiro: RJ. 2015. Disponível em: http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/R201671.pdf. Acessado em: 02/04/2016.
Corso, H. V.; Salles, J. F.. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 44, n. 3, p. 28-35, jul./set. 2009.
CUETOS, Fernando; RODRIGUES, Blanca; RUANO, Elvira. PROLEC – provas de avaliação dos processos de leitura. 2. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário